terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Os aspectos políticos do antissemitismo na França

Acho importante fazer um exame sobre os aspectos políticos envolvendo a discussão sobre o antissemitismo na França. Esta discussão carrega intrinsecamente a ideia de identidade francesa e da capacidade do Estado de absorver e promover integração de suas comunidades minoritárias. 

A presença judaica na França é muito antiga; há registros de comunidades judaicas desde o ano de 465. Num dos momentos mais simbólicos da criação do França moderna, os judeus também foram atingidos. Em 1790, no ano seguinte à Revolução Francesa, os judeus receberam cidadania. De fato, a França foi o primeiro país a garantir aos judeus este direito. Hoje, há mais de meio milhão de judeus franceses plenamente integrados à identidade nacional francesa. 

Após a morte dos quatro judeus no mercado de produtos casher, o presidente François Hollande declarou que “a França sem os judeus não é a França”. É a esta história a que ele se refere. A questão é mais complexa, na medida em que o debate sobre antissemitismo é também o debate sobre a capacidade ou incapacidade dos sucessivos governos franceses de conseguir integrar suas minorias. Hoje, a situação dos judeus na França é delicada, em virtude da sensação de insegurança dos membros desta comunidade. É interessante notar também que os membros da comunidade muçulmana na França reclamam de não se sentirem plenamente integrados ao país. A questão judaica, na prática, alimenta este debate e atinge a todos. 

O momento é especialmente delicado em virtude do aumento da emigração dos judeus. Se houver uma emigração em massa dos judeus franceses, será difícil defender o modelo de integração francesa. Se por um lado os judeus estão integrados, por outro não se sentem seguros. Já os muçulmanos não se sentem integrados. Curiosamente, as duas problemáticas – judaica e muçulmana –são complementares, porque demonstram algumas incompetências relevantes de sucessivos governos franceses de diferentes partidos e filiações ideológicas. 

Isso explica também a razão pela qual o presidente François Hollande deixou a Grande Sinagoga de Paris pouco antes do discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Hollande sabia que Bibi reforçaria a ideia de que Israel estará sempre de portas abertas aos judeus. E certamente àqueles judeus que desejam deixar a França em virtude do aumento do antissemitismo no país. O discurso de Netanyahu reforça um dos aspectos principais de incompetência do Estado francês. É evidente que Hollande não se sentiu confortável com a mensagem dita de maneira tão clara por um líder estrangeiro em Paris. 

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