quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

Vinte anos depois, investigação sobre atentado à associação judaica em Buenos Aires sofre revés

A morte do promotor argentino que investigava o atentado à AMIA (Associação Mutual Israelita Argentina) é um desses episódios marcantes das relações internacionais que expõem tratados secretos entre países. A tese de suicídio é uma piada de mau gosto. Há dez anos dedicado ao caso, é improvável que Alberto Nisman tirasse a própria vida. Ainda mais na véspera de depor e apresentar as provas que coletou desde 2004 – mais de um milhão de páginas de documentos. 

O governo Kirchner de pronto adotou a tese de suicídio. É provável que, depois que a poeira baixar, nada mais seja feito e o atentado que tirou a vida de 85 pessoas siga sem solução – ou melhor, sem culpados. Nisman estava convencido de que a autoria cabia ao governo do Irã e a realização, ao Hezbollah libanês. Em troca do acobertamento do caso, um esquema de compra de petróleo iraniano pela presidente Kirchner. 

No mínimo, é curioso que a atitude oficial da presidência argentina desde o primeiro instante tenha sido se agarrar à hipótese de suicídio. É interessante notar uma visão com a qual compartilho; a situação na Argentina representa o fracasso de parte da comunidade internacional em lidar com o fenômeno do terrorismo. É a posição de Seth Lipsky, editor do New York Sun:

“Tivemos o atentado ao avião do Pan Am sobre Lockerbie, Escócia, em dezembro de 1988; o atentado à embaixada de Israel em Buenos Aires, em 1992; o primeiro atentado ao World Trade Center, em 1993. É incrível que em mais de 20 anos – uma geração – o esforço de fazer com que os criminosos respondam diante da Justiça termine com o promotor (Nisman) morto na banheira de sua casa”, escreve. 

Como escrevi, não me espantarei se nada for feito em relação ao caso AMIA. É uma pena não apenas à comunidade judaica, mas ao Estado argentino; especialmente se lembrarmos o passado do país em sua relação ambígua com a comunidade judaica. Haverá ainda repercussões políticas mais substanciais mesmo fora da Argentina. Os acontecimentos não estão isolados e acabam compondo parte da teia do jogo internacional.

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