segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

Vitória da extrema-esquerda na Grécia pode impactar futuro político da União Europeia

A vitória do partido de extrema-esquerda Syriza, na Grécia, representa algumas possibilidades domésticas e externas. Em sua relação com a população, com os membros do partido e com a cúpula econômica europeia, o novo primeiro-ministro, Alexis Tsipras, vai precisar ser muito habilidoso. 

Ao longo do ano de 2014, Tsipras deixou de lado a retórica de rompimento absoluto com a União Europeia e adotou tom mais moderado. Isso funcionou como estratégia eleitoral, na medida em que quanto mais avesso a alianças, mais complicado é obter ganhos políticos. Foi assim que o líder do Syriza conseguiu atrair eleitores de centro, por exemplo. O problema é que ninguém sabe como será sua postura a partir de agora, algo que carrega em si implicações durante o mandato. Se voltar ao discurso de extrema-esquerda, estica a corda com a cúpula econômica europeia (a chamada Troika – formada pelo Banco Central Europeu, Comissão Europeia e Fundo Monetário Internacional), arriscando as negociações com o bloco e mesmo a permanência da Grécia na UE; se for moderado demais e eventualmente considerado fraco nas negociações externas, desagradará à base do partido (e a coalisão formada para que ele governe) e certamente aos 40% dos eleitores que lhe deram a vitória nas urnas. O sistema parlamentarista tem esta característica peculiar – se a base aliada abandona o primeiro-ministro, o governo cai. 

Curiosamente, a vitória da extrema-esquerda grega alimenta indiretamente os muitos partidos de extrema-direita que se multiplicam pela Europa. Se a União Europeia pesar a mão nas negociações com os gregos e reafirmar que não está disposta a ceder na exigência de austeridade, a extrema-direita que se define como “eurocética” poderá enxergar ainda mais elementos para justificar o argumento de que não vale a pena permanecer no bloco europeu. É o caso de dois partidos que têm obtido resultados relevantes no continente: a Frente Nacional, na França, e o Ukip, na Grã-Bretanha. Todos os espectros da política europeia estão de olho na Grécia e em sua relação com a EU. 

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