terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Guerra na Ucrânia: Depois de mais de cinco mil mortos, nacionalismo e paranoia estão no centro da disputa

A tensão entre separatistas pró-Rússia e o exército regular da Ucrânia permanece. A tendência, inclusive, é que o número de até agora 5,1 mil mortos aumente. Obcecado pelos acontecimentos no Oriente Médio, o Ocidente deixou esta guerra de lado. Ao contrário do que se poderia imaginar, no entanto, a disputa está longe de convencional. O “sonho” de se deparar com uma guerra clássica vai ter de ficar para a próxima. Isso porque a própria Rússia nega envolvimento no conflito e insiste na posição de que tudo não passa de uma grande conspiração internacional contra Moscou. 

É quase surreal imaginar que o governo russo não esteja por trás dos separatistas de Donetsk e Luhansk. Alexander Zakharchenko, líder da chamada República Popular de Donetsk, vai na contramão das tentativas de acalmar os ânimos e promete uma mobilização geral capaz de aumentar para 100 mil o número de soldados separatistas. Do lado ocidental, há uma divisão sobre o posicionamento a ser tomado. A chanceler alemã, Angela Merkel, diz que as possibilidades de encontrar uma solução pacífica ainda existem. Os EUA e a Otan (a aliança militar ocidental) parecem discordar da Alemanha. O New York Times cita um relatório independente de oito ex-oficiais americanos pedindo a Washington o envio de três bilhões de dólares em equipamentos de defesa para as tropas ucranianas. Este é o debate do momento; o quanto os EUA devem se envolver no conflito e quais os prejuízos para a política externa americana a partir disso. 

O presidente russo, Vladimir Putin, espera ansiosamente por uma posição mais assertiva dos EUA. Em seus devaneios soviéticos, nada mais significativo do que a possibilidade de confirmar as teorias conspiratórias cuja propaganda governamental russa se esforça em multiplicar. O conflito na Ucrânia tem sido a base de Putin para especulações do gênero. Esse discurso não resolve a guerra, mas este não é exatamente o maior objetivo de Moscou. Quanto mais a Rússia ganhar tempo, melhor. E se durante este tempo o governo ainda conseguir mobilizar o nacionalismo russo, melhor ainda. Principalmente em função da crise econômica que se estabelece com força no país. 

Este é o cenário mais amplo. No próximo texto, vou expor as questões estratégicas dos atores envolvidos

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