quinta-feira, 23 de abril de 2015

Europa não sabe como responder às mortes de imigrantes no Mediterrâneo

Após as mortes de mais de 800 pessoas que tentavam chegar à Europa viajando numa balsa no Mediterrâneo, a imigração ilegal passou ao topo da lista de prioridades na agenda internacional.  Não era para menos. Para quem pensa que questões humanitárias podem estar no centro da discussão, sugiro pensar novamente. Há dois aspectos envolvidos neste assunto: a abordagem da Europa à imigração ilegal em tempos de crise, e a falência nacional de Líbia e Síria.

Por circunstâncias geográficas, a Itália está à frente da reunião que foi realizada nesta quinta-feira em Bruxelas. A península italiana é a porta de entrada para imigrantes africanos, principalmente os que partem da Líbia. Se em outros tempos o Ocidente imaginou que Kadafi havia sido enquadrado e a Líbia se reconciliado com a comunidade internacional, o ano de 2011 e os eventos que se sucederam deixaram evidente o contrário. Não apenas Kadafi foi morto nas ruas do país como também o processo de Primavera Árabe ocorrido por lá serviu tão somente para desmembrar o Estado líbio. Não há quaisquer garantias de que a situação será resolvida. E é justamente da Líbia que partiu a balsa que matou mais de 800 pessoas nas águas do Mediterrâneo.

De forma exponencialmente mais dramática, a Síria é outra grande “fornecedora” de imigrantes. O país comandado por Bashar al-Assad entrou em ebulição naquele mesmo ano de 2011. E, assim como na Líbia, ainda não se sabe quando – e se – haverá uma Síria após a guerra civil que já causou mais de 200 mil mortes e 4 milhões de refugiados. Paira sobre a situação síria constrangedor silêncio internacional.

Mas a conferência dos líderes europeus em Bruxelas teve como foco principal o sintoma, não a causa. Como resultado do encontro, a promessa de triplicar o orçamento para patrulhar o Mar Mediterrâneo e destruir as embarcações piratas, inclusive os portos de ondem partem. Os países europeus brigam para chegar a conclusões sobre quantos imigrantes poderão receber. Como exemplo desta situação que beira a surreal, o presidente francês, François Hollande, disse estar disposto a receber entre 500 e 700 sírios. De acordo com dados da agência da ONU para refugiados (UNHCR, em inglês), somente em 2014 cerca de 150 mil sírios se tornaram refugiados “oficiais”, ou seja, deram entrada no pedido formal de asilo. 

Para ilustrar os problemas que ainda estão por vir, vale retornar ao primeiro aspecto mencionado neste texto. A situação de caos institucional na Líbia pode voltar a atormentar os Estados europeus. Com o país falido – e politicamente dividido entre dois grupos rivais –, a Europa deve enfrentar novo problema. Isso porque, se levar adiante a ideia de atacar os portos líbios, pode sofrer resposta militar do grupo que governa paralelamente o país. Mohammed el-Ghirani, ministro das Relações Exteriores da facção que faz oposição ao governo líbio reconhecido pela comunidade internacional, diz que irá confrontar qualquer ofensiva europeia. Segundo ele, o governo líbio (o paralelo) já teria tentado oferecer alternativas para lidar com os imigrantes que partem do país, mas todas as propostas foram desprezadas.

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