domingo, 26 de abril de 2015

O terremoto no Nepal e as crises humanitárias de nosso tempo

A tragédia do terremoto no Nepal se assemelha aos igualmente trágicos eventos no Mar Mediterrâneo sobre os quais escrevi no último post. Os dois acontecimentos encontram paralelo também com a guerra civil na Síria e também com todas as grandes catástrofes humanitárias de nossos tempos. Por mais que no Nepal a natureza seja a responsável pelo terremoto, não se pode esquecer que a humanidade carrega sua dose de culpa. A guerra civil síria, as mortes no Mediterrâneo e a escalada na contagem dos mortos no Nepal têm em comum a incapacidade das lideranças internacionais de encontrar soluções para conflitos e para a pobreza em larga escala, esta a maior tragédia de todas.

Como no Mediterrâneo, agora as líderes mundiais não têm muito que fazer a não ser buscar doações e dedicar esforços para amenizar parte das consequências. É bom deixar claro que não há teorias conspiratórias, ninguém tem culpa do que aconteceu no Nepal. Da mesma maneira, em 2010, ninguém foi culpado pelo terremoto no Haiti que deixou mais de 100 mil mortos. Mas não há dúvidas de que, se não fosse a pobreza extrema, não haveria 100 mil mortos no Haiti, da mesma forma que os números finais de mortos no Nepal (ainda em contagem) seriam menores. O Nepal inclusive tem como agravante o passado recente de uma década de guerra civil (1996-2006) responsável por 17 mil mortos e 100 mil deslocados.  Uma guerra civil com a qual ninguém se importou minimamente, é bom dizer.

Nepal, Síria, Haiti, Líbia e as águas do Mediterrâneo trazem a recordação das Metas do Milênio ratificadas por 189 países-membros da ONU em 2002 e cujos resultados deveriam ser atingidos até 2015. O primeiro ponto do compromisso internacional era erradicar, até este ano, a extrema pobreza e a fome. Isso não aconteceu. Há outros sete outros pontos dedicados a melhorias nos índices globais de educação, saúde, igualdade de gênero e meio ambiente. Houve poucos progressos em escala global. Há países na África que estão melhorando índices, mas que não deixam de ser o ponto de partida de milhares de migrantes que acabam por morrer no Mediterrâneo. 

A explicação para isso pode estar numa conclusão da jornalista Michela Wrong, da Foreign Policy: “eles (os migrantes) querem ter a chance de melhorar em suas próprias vidas, não promessas de uma utopia distante”. Acho que isso diz muito sobre as Metas do Milênio, muito embora considere que um compromisso internacional pacífico seja algo louvável. No entanto, as últimas tragédias mostram que há milhares de pessoas sem tempo para esperar. 

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