segunda-feira, 29 de junho de 2015

Negociações com o Irã: sobram especulações na semana decisiva

A expectativa pelo resultado final das reuniões entre o P5+1 e o Irã, nesta terça-feira, pode gerar frustração. Já se sabe que a negociação em Viena está complicada, e não poderia ser mesmo diferente. Muito além das questões entre as partes, há elementos políticos internos interessados no fracasso das negociações. 

Do lado americano, os republicanos trabalharão arduamente para derrubar qualquer acordo. Escrevi extensamente sobre como isso pode acontecer. Leia aqui. As disputas domésticas iranianas também podem influenciar. O aitatolá Ali Khamenei pode tentar minar o diálogo em função de disputas com os aliados do presidente Hassan Rouhani, cujo governo deposita muitas expectativas no sucesso dos acordos para suspender as sanções e iniciar a recuperação econômica. Apesar de este fator político no Irã ser considerado como mais um problema, não considero possível dar a ele o mesmo peso da oposição republicana nos EUA. 

Khamenei é o Líder Supremo do país, maior autoridade iraniana, não Rouhani. O atual presidente foi representante de Khamenei no Conselho Supremo de Segurança Nacional. Por mais que Rouhani venha a usufruir de prestígio político interno com o fim das sanções, está muito claro internamente aos cidadãos que Khamenei é parte do processo, não um opositor a Rouhani. Muito pelo contrário. Nada neste nível é decidido no país sem aprovação de Khamenei. 

O al-Monitor, site dedicado ao Oriente Médio, conseguiu acesso a fontes iranianas que garantem que nenhum documento será assinado em Viena, mesmo se um acordo for alcançado. Segundo essas fontes, o Irã aguardaria a ratificação do acordo nos EUA antes de iniciar a implementação das medidas. Se esta de fato for a posição de Teerã, é uma boa leitura do jogo político doméstico americano – análise que fiz disponível no link acima. 

Pode também ser um preparativo para justificar deixar Viena sem um acordo formal, empurrando a pressão aos EUA. Isso não me parece exatamente inteligente, na medida em que o governo de Barack Obama é a grande chance iraniana de suspender as sanções. O Irã tem interesse real no fim das restrições, então deve apostar na aliança com a atual administração americana. Mesmo que haja um próximo governo democrata, Hillary Clinton tende a ser mais dura nas negociações. 

Nenhum comentário: