terça-feira, 7 de julho de 2015

Grécia deixa evidente falha estrutural da União Europeia

A situação da Grécia é também uma ameaça à União Europeia. Não apenas porque será um tremendo fracasso ao projeto de integração entre os países caso os gregos venham a deixar a UE, mas porque mostra a fragilidade política do conceito de bloco supranacional. Os europeus têm o crédito pela invenção da maior parte das definições políticas mundiais – criaram modelos de governança e governo que hoje definem a existência humana tal como a conhecemos. Não apenas criaram sistemas políticos, mas o próprio conceito de Estado nacional.

Para a população mundial, esta é uma realidade dada, natural. Mas, claro, se hoje a grande maioria dos habitantes do planeta vive em países com fronteira, hino, idioma, bandeira e um aparato de Estado, essas são invenções europeias que se tornaram populares  e posteriormente padrão, a partir do século 19. A integração supranacional é igualmente europeia. A UE se tornou símbolo de prosperidade, qualidade de vida e sucesso econômico até 2008, ano em que a crise financeira global chegou para ficar na Europa.

A Grécia é a exacerbação desta dúvida sobre o projeto político europeu. É o maior desafio enfrentado pelo bloco. Criada para dar paz definitiva a um continente historicamente marcado por conflitos, a UE está sustentada em bases nada sólidas. Enquanto simbolizava prosperidade, não foi questionada. Desde 2008, não é mais assim, e as rivalidades nacionais, preconceitos e desconfianças parecem ter superado as boas intenções dos anos 1990. O Estado nacional ainda está vencendo o conceito de Estado supranacional.

Há falhas importantes na execução do projeto político da UE que explicam em boa parte o momento de impasse. A situação na Grécia tem sido examinada de longe pela cúpula econômica, como se o país fosse uma criança que merece ser punida por mau comportamento.  Vinte e cinco por cento dos gregos estão desempregados. As medidas de austeridade rejeitadas no domingo já estão em vigor desde meados de 2012 e não surtiram efeito. Como imaginar que, após três anos de submissão, os gregos pudessem apoiar um novo – e igualmente ineficaz – tratamento de choque? Foi até surpreendente que 30% dos eleitores tenham votado no “sim”.

O Syriza, partido de esquerda do primeiro-ministro Alexis Tsipras, foi eleito em janeiro deste ano sob a promessa de combater as medidas da troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional). Seria estranho se o partido perdesse este referendo. Na verdade, o primeiro-ministro está agora duplamente legitimado. Mas este não é um dado exclusivamente positivo ao governo de Atenas. Não se o objetivo for permanecer na União Europeia.

Eleito para combater as medidas punitivas e agora referendado para seguir adiante nesta batalha, o primeiro-ministro não tem nenhuma margem de negociação. Isso porque os dirigentes europeus não recuam na determinação de aplicar mais austeridade. Qualquer acordo deve honrar compromissos de mais corte por parte dos gregos. Mas Tsipras não pode fazer isso. Não pode duplamente. O que o deixa amarrado nas conversações com a troika. Se admitir novas medidas restritivas, terá traído a população também duplamente.

Aparentemente, não há muito espaço para alternativas. A Grécia parece estar seguindo o caminho de saída da União Europeia. O “não” dos gregos nas urnas deve ser respondido de maneira recíproca em Bruxelas, evidenciando falhas estruturais do projeto europeu de integração supranacional e deixando dúvidas sobre seu futuro. 

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