quarta-feira, 8 de julho de 2015

Programa nuclear iraniano: a reta final das negociações

As negociações com o Irã são importantes aos dois lados, muito embora este seja um diálogo envolvendo sete partes – o chamado P5+1 além do próprio Irã. Os EUA são os mais interessados e há muito capital político investido. Tudo isso leva a crer que há pouca possibilidade de não haver resultados práticos. É claro que este é um risco desde o início, mas a Casa Branca não se envolveria diretamente sem que a balança não pendesse para o lado das perspectivas favoráveis. 

Obama tem muito a perder e a ganhar. Está desgastado com dois de seus principais aliados no Oriente Médio: Israel e Arábia Saudita – este último, inclusive, é o maior rival iraniano e está em guerra no Iêmen justamente contra a milícia xiita houthi. Os sunitas acusam o Irã de apoiar os houthis no Iêmen, mas a República Islâmica nega. É impossível analisar as negociações sobre o programa nuclear iraniano e a situação do Oriente Médio atual deixando de lado a disputa sectária e geopolítica entre sunitas e xiitas. É claro que Washington entende esta situação e, muito em função disso, as negociações com os iranianos representam, por si só, um tremendo risco. Historicamente aliados aos Estados sunitas, os americanos estão apostando alto ao se aproximar justamente do maior ator xiita e que jamais fez questão de esconder suas ambições regionais. 

Os EUA querem obter uma grande vitória diplomática no Oriente Médio. Enquadrar o programa nuclear iraniano é prioridade máxima da gestão Obama e irá compor, ao lado da reaproximação com Cuba, sua grande conquista de política externa. Para Teerã, as negociações são igualmente importantes. Podem liberar 4,9 bilhões de dólares retidos pelas sanções internacionais. Mas há um aspecto a se considerar: somente o processo de negociação já deu ao Irã 7 bilhões de dólares. O montante foi pago como estímulo ao estabelecimento do diálogo direto e como premiação pela assinatura do acordo interino - que entrou em vigor em janeiro de 2014 – e, posteriormente, pelo acordo preliminar de abril de 2015. As negociações têm sido lucrativas, ao mesmo tempo em que deram mais tempo ao país. O foco das discussões deixou de ser a previsão de mais sanções ou punições pelo não cumprimento do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares. 

Mas é claro que os iranianos estão em busca de um acordo, uma vez que os setores petrolífero e bancário estão bloqueados. Suspender este bloqueio internacional será igualmente capitalizado pela cúpula política do país como vitória sobre o Ocidente. 

Mas há um princípio válido a qualquer negociação: vender caro algo que a outra parte quer demais. E os iranianos sabem o quanto o governo americano deseja obter este acordo definitivo. Por isso, este é o momento de pedir mais, e o Irã também insiste para que a ONU suspenda o embargo de venda de armamento e o desenvolvimento de mísseis balísticos, em vigor desde 2007 também em função do programa nuclear. Este assunto é especialmente delicado, na medida em que as negociações enfrentam resistência do Congresso americano. Liberar a venda de armas é algo que certamente servirá como argumento aos opositores domésticos – o partido Republicano em peso e parte dos congressistas democratas. Isso sem falar em Benjamin Netanyahu, o crítico mais contundente do que há muito tempo classifica como um “mau acordo”. 

Ainda considero provável o acerto final entre todas as sete partes envolvidas, principalmente pela maneira como Obama entende as relações internacionais, um misto entre o realismo político e a esperança de mudança de mentalidade a partir de concessões. Mas ninguém pode ser inocente o bastante a ponto de acreditar que resultados positivos nas negociações serão capazes de frear as ambições geopolíticas do Irã no Oriente Médio. 

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